terça-feira, 9 de setembro de 2014

OlhAndo

 


  Suspirei outra vez e decidi seguir em frente. A chuva recortava minha visão da rua em pequenos retalhos de luz e eu já não estava me importando mais se tropeçaria ou algo assim. Só o que conseguia enxergar era esse inconformismo dentro de mim. Uma ânsia absurda em mudar daquele lugar estreito de mente e horizonte, em que as pessoas se contentavam em sobreviver, e não percebiam a beleza da vida e seu potencial. Novos sons, novas pessoas, novos cheiros e sensações. Havia todo um mundo para se viver e eu necessitava simplesmente expurgar esse desejo de ampliar os horizontes e respirar o ar puro da mudança. 
  As pessoas passavam por mim em uma torrente apressada, submersas em seu próprio mundo digital, em que os bits importavam mais que os sentimentos. Levantei meus olhos para o céu além de onde os edifícios se esforçavam em esconder e contemplei emudecida aquela imensidão absurda. A chuva havia cessado e agora restava apenas um sol tímido se esgueirando por trás das montanhas, se retirando em seu espetáculo de cores. Um arco-íris completava a perfeição daquele fim de tarde. Um forte empurrão no meu braço direito me arrancou do devaneio. Percebi então que havia estacado em plena calçada movimentada e..puxa o cara nem ao menos me pediu desculpas. Massageio meu braço e sigo em frente. Não é necessário dizer que ninguém além de mim notava o céu azul. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Lembre de respirar!

   




    -Então,por que dói tanto gostar de alguém?
Sandra coçou a cabeça,impaciente e pensou no que poderia responder. Seu pequeno neto,João de oito anos apenas, aguardava  avidamente por uma resposta.
-Por que voce está me perguntando isso filho?- disse Sandra,surpresa com a precocidade do garoto.
-Por que...- ele parecia envergonhado,as bochechas gorduchas subitamente ruborizadas- A Alice é linda né. E eu gosto tanto dela, mas tanto mesmo, que se ela fica perto esqueço até de respirar- disse ele, com uma expressão atormentada nos miúdos olhos verdes- Mas acho que ela não gosta de mim- concluiu ele desapontado, o lábio inferior pendendo num quase choro.- E tá doendo aqui dentro, vovó.
Sandra sentiu ímpeto de dar gargalhadas com aquele pequeno drama infantil e o romântico exagero de João, herdado do avó Rafael, só podia ser.
Ela ainda não tinha uma resposta para o neto. Como explicar a ele que, muito provavelmente, sentiria aquela dor novamente? Que nem sempre as coisas eram como queríamos e nos restava apenas a resignação?
Sandra abraçou então o pequeno e plantou-lhe um beijo na testa, meio enrugada de preocupação e finalmente lhe disse:
-Dor de amor é a melhor dor que existe- e ante o ar de confusão estampada no rosto do neto, completou- Por que isso significa que estamos vivos. E um dia essa dor passa e a gente aprende a respirar de novo,eu  juro.

terça-feira, 4 de março de 2014

Correspondido(?)



As palavras que encontro flutuam no vento feito sonhos desprezados, encolhidos pelo orgulho. Sempre que tento explicar a mim mesma ,o que são essas pontadas absurdas quando ele suspira, parece patético. Desisto de soar verdadeira, e me abandono á não compreensão. A alternativa, da aceitação, me aterroriza. Minhas muralhas se esvaem quando sua risada rouca quebra o silencio insosso e eu gostaria de expurgar isso de mim. Não há possibilidades que isso aconteça e talvez eu não mereça. Tanto. Talvez, se eu fosse menos assim, seus olhos procurassem mais a mim.
É engraçado como não o suporto e o anseio insensatamente. Jamais se concretizará, eu sei. Meus lábios emudecem ao som da palavra proibida, e ele nunca irá ouvi-la de mim. Algum dia ele saberá. Mas não agora. Não de mim. Ver negado o direito de estar ao seu redor e apreciar sua afeição, mesmo que  contida é algo que eu não suportaria. Preferível é que eu me afaste e abandone o “talvez” para trás. Mantenho com cuidado em minha mente desorganizada o gosto das suas mãos cálidas nas minhas e o petulante levantar de sobrancelhas.
Algum dia talvez ele olhe para trás e  perceba que me amava.

 Mas os tempos serão outros, quando eu já tiver abandonado sua lembrança num lugar desolado qualquer no meio do caminho até a felicidade.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Luares roucos



Acordo a cada luar desperdiçado com um gosto
Amargo a embotar a inocência
Há tantos motivos para se dizer adeus 
Mas as palavras se prendem a garganta
E recusam-se a ser independentes
Quando teus olhos se fecharem a  noite lembra do meu rosto 
Que se desfaz na distancia entre nossos olhos
Tão perto e tão longe você insiste em permanecer
Eu espero o amanhecer bater na porta para expulsar os pesadelos
Sem você ao lado acolho meus medos e tudo se esvanece serenamente.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Crescer


Eu continuo.
Tentando.
Me enganando.
Esperando que a solução caia dos céus
E venha com manual de instrução.
Ninguém te diz como é complicado crescer e fingir que se importa com o futuro.
Nada parece importante quando 
Se espia pela fechadura dos segredos.
Perdi as chaves no meio do caminho até seu sorriso.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Murmúrios...mmmm


Eu implorei por uma chance a mais
Um sinal de que tudo ficaria bem
Mas tudo que ganhei foram feridas na alma,
Orgulho arranhado e lembranças ruins
Chorei dilúvios e me conti em represas de auto-proteção
Sem permitir que os sentimentos fluissem livremente nas palavras
Como um animal ferido recuei acuada aos cantinhos
Temendo minha própria consciencia
Seu olhar decepcionado persegue meu bom senso
Como um fantasma vingativo
E eu me nego a desfalecer se lutar,tentar,me desapontar
E não importam os medos infantis
O espírito de liberdade cochichou no meu ouvido que quer casar comigo
Aceitei.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Flores e armaduras


Em contemplações familiares, reviro cada passado singular
Que seus olhos de águia insistem em não admirar
Espero inconstante por rastros de uma explicação racional
Que de sentido a esses insultos emergindo da garganta dormente
Ele tem gritado e se incomodado por coisas
Tão absurdamente insignificantes que não conseguem interromper
Seus protestos, e nem mesmo se recorda por que começou
E o mundo faz a retrospectiva de suplicas bem direcionadas
Mas não encontram o caminho de volta pra casa
Sua compaixão se escondeu numa armadura e não

Protegeu de bom grado meu fardo desencontrado